Taxa de variação homóloga em dezembro foi de 9,6% em Portugal e de apenas 5,8% no país vizinho. Fosso começou a alargar-se no final do verão.
Os preços subiram em Portugal a um ritmo muito superior ao de Espanha nos últimos meses de 2022. Uma parte da explicação está na forma como o instituto de estatística do país vizinho leva em conta a evolução dos preços da eletricidade.
A taxa de variação homóloga da inflação em Portugal desacelerou em dezembro, para os 9,6%, menos três décimas do que o registado no mês anterior, segundo a estimativa rápida do INE. No país vizinho, a travagem foi ainda mais significativa, baixando de 6,8% para 5,8%, o valor mais baixo em 13 meses.
O ritmo de subida dos preços em Espanha foi, no último mês de 2022, 40% inferior ao registado deste lado da fronteira. A diferença foi cavada a partir do final do verão. Se no país vizinho a inflação teve o pico em julho, nos 10,8%, desacelerando rapidamente a partir de setembro, em Portugal o pico terá sido registado em outubro, nos 10,1%, sem que tenha existido um alívio expressivo desde então (apenas cinco décimas).
O ritmo de subida dos preços em Espanha foi, no último mês de 2022, 40% inferior ao registado deste lado da fronteira. A diferença foi cavada a partir do final do verão. Se no país vizinho a inflação teve o pico em julho, nos 10,8%, desacelerando rapidamente a partir de setembro, em Portugal o pico terá sido registado em outubro, nos 10,1%, sem que tenha existido um alívio expressivo desde então (apenas cinco décimas).
O que explica este fosso entre os dois países da Península Ibérica? A estimativa rápida de dezembro do INE espanhol não discrimina a evolução nas diferentes componentes do índice de preços, pelo que é preciso recuar aos meses anteriores. Em setembro, outubro e novembro a travagem na inflação é explicada sobretudo pela componente da habitação, em particular os custos da energia.
Em novembro, a variação homóloga daquela classe foi de apenas 1% em Espanha, contra 18,46% em Portugal. A distância começou a desenhar-se em outubro, quando o índice referente à habitação em Espanha baixou 11 pontos percentuais e meio para os 2,6%, enquanto deste lado da fronteira acelerava para os 18,49%. Naquele mês, entrou também em vigor em Espanha uma forte descida do IVA do gás, de 21% para 5%, a mesma já aplicada à eletricidade, até final do ano.
A inflação nos produtos alimentares também está a acelerar no país vizinho, atingindo os 15,3% em novembro, mas menos do que em Portugal, onde esta classe registou uma variação homóloga de 19,96%.
Outro fator a ter em conta é o efeito base, uma vez que os preços nos últimos meses de 2021 estavam já a crescer a um ritmo superior a Portugal. No último mês desse ano, a inflação homóloga foi de 6,5% em Espanha e apenas 2,74% em Portugal.
Uma questão de metodologia?
O El Economista sublinha, num artigo publicado em novembro, o papel do mecanismo ibérico de limitação dos preços do gás, e por essa via da eletricidade, como um dos motivos que explica a diferença face à inflação homóloga na Zona Euro, que se fixou em 10% em novembro. Fazendo Portugal também parte desse mecanismo, porque têm os preços um comportamento distinto? É aí que as diferenças de cálculo podem ter um papel.
O INE espanhol inclui no cálculo do índice de preços (IPC) apenas os consumidores que têm contratos do mercado regulado, cerca de 40% do total, cujas tarifas dependem da evolução diária do mercado grossista de eletricidade, reagindo por isso rapidamente à evolução das cotações. Ao contrário de Portugal, onde é no mercado regulado que os preços da energia são mais estáveis, no outro lado da fronteira isso acontece no mercado livre.
O método, que é único na Europa e já suscitou polémica em Espanha, tem como efeito acelerar o impacto da evolução dos preços da eletricidade no IPC, seja quando sobem ou quando descem.
Isto faz com que no país vizinho a chamada taxa de inflação subjacente, que exclui a evolução dos preços da energia (onde se incluem também os combustíveis) e dos produtos alimentares não transformados, esteja agora acima do IPC. Devido à aceleração noutras classes de produtos e serviços, a taxa subjacente, que é a mais valorizada pelo BCE, subiu em dezembro para os 6,9%. Neste caso, a diferença para Portugal é mínima, com a estimativa rápida do INE a apontar para 7,3%. E se olharmos para a inflação média nos últimos 12 meses, o valor em Portugal (7,8%) é até inferior ao de nuestros hermanos (8,4%).
As últimas previsões do Banco de Espanha apontam para uma inflação de 4,9% em 2023, com o prolongamento da maioria das medidas fiscais do governo aprovadas no ano passado. Na última semana de dezembro, o Executivo de Pedro Sánchez anunciou uma redução para 0% do IVA de vários produtos essenciais. Segundo o Banco de Portugal, a inflação será mais elevada deste lado da fronteira, ao estimar uma taxa média de 5,8%.
Fonte: ECO